domingo, 25 de setembro de 2011

ORGASMO VIROU OBRIGAÇÃO...

Orgasmo virou obrigação, diz Mary Del Priore

          

Autora do livro "Histórias Íntimas" responde a cinco perguntas do GNT e explica por que o véu da brasileira é o espelho

A historiadora Mary Del Priore, autora do livro "Histórias Íntimas". Foto: Divulgação.
Por: Pollyana de Moraes


Não basta ser bonita, é preciso estar na moda, ter uma carreira incrível, tempo para a família e uma vida sexual pra lá de satisfatória. As mulheres brasileiras, por mais desencanadas que possam parecer, são também agentes (ou vítimas) de uma tendência contemporânea que condena: quem não tem tudo, não tem nada.

Para entender como esse comportamento interfere na sexualidade feminina, tivemos um bate papo rápido com a historiadora Mary Del Priore, autora do best-seller “Histórias Íntimas” (Planeta), que traz um panorama do erotismo e da intimidade no Brasil. Aqui, ela comenta alguns mitos e conflitos históricos que as mulheres acabam levando para a cama. E os homens também sofrem as consequências.

GNT: Existe um mito, quase histórico, de que a mulher brasileira é sexualmente liberal. Você concorda?
Mary: Sim. Os viajantes que passaram pelo Brasil no século XIX acreditavam nisso e se baseavam na precocidade sexual de nossas antepassadas, assim como em sua disponibilidade. Muitos não percebiam que a pobreza das mulheres fazia do sexo uma forma de ganhar a vida. No século XX, em áreas pobres do país, o turismo sexual continua a fazer vítimas. É um retrato lamentável de nossa sociedade.

GNT: Falar de sexo ainda é tabu, mesmo entre as mulheres mais jovens?
Mary: Não. Talvez entre algumas poucas. Nos últimos 30 anos, passamos de uma sociedade onde sexo era sinônimo de pecado, sujeira e interdição, para outra, onde ele é obrigatório.

GNT: A ditadura da beleza impacta de alguma forma na sexualidade feminina?
Mary: Penso que o véu da brasileira é o espelho! O comportamento excessivamente narcísico, vaidoso, convida a só pensar em si. E não no outro. Logo, o sexo que é uma relação a dois, fica comprometido.

GNT: Por outro lado, as mulheres parecem estar mais estimuladas a buscar prazer sexual, incentivadas pela mídia, por exemplo. O prazer virou obrigação?
Mary: Existe uma diferença entre prazer (que se pode ter num simples carinho) e orgasmo. Até os anos 70, o termo era pouco empregado ou substituído por eufemismos. Até os anos 40, nem existia tal preocupação no horizonte dos casais, sendo necessários "manuais de casamento" cuja leitura era recomendada para explicar do que se tratava. Dos anos 80 em diante, ele passou a encher as páginas das revistas e telas de televisão e do cinema. Ter orgasmo virou obrigação.

GNT: Para a mulher que trabalha fora e ganha mais que o parceiro, a inversão de papéis interfere no sexo?
Mary: As mudanças econômicas têm se refletido nos papéis sociais. Não é à toa que consultórios recebem mais e mais homens com problemas de disfunção ou baixa auto-estima. Numa sociedade machista e patriarcal, o "perdedor" (o homem que ganha menos do que a mulher) é muito mal compreendido pelos homens e pelas próprias mulheres. O sofrimento masculino é tão importante quanto o feminino.
 
 
GNT/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário